Espanha: Pastéis de nata e Ronda dos Quatro Caminhos em colóquio sobre laços ibéricos

Correio do Minho

Pastéis de nata da cadeia do Linhó e a Ronda dos Quatro Caminhos darão cor e sabor a um colóquio que decorre na próxima semana em Madrid, em que académicos e jornalistas espanhóis e portugueses analisarão os laços ibéricos.

Promovido pela Embaixada de Portugal em Madrid e intitulado “Portugueses e Espanhóis - Somos assim tão diferentes?”, o colóquio decorre segunda-feira na Casa da América, em Madrid e está aberto ao público em geral.

O colóquio terá como interveniente principal Gabriel Magalhães, Professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Salamanca e de Literatura Espanhola na Universidade da Beira Interior, um conhecedor das culturas de Espanha e Portugal e que já viveu nos dois países.

Em declarações hoje à agência Lusa, Gabriel Magalhães explicou que vai analisar as diferenças culturais e sociais entre os dois países, considerando que a sua experiência “de português e espanhol” demonstrou que os dois povos “são realmente diferentes”.

“Quando se é português e espanhol por acasos da vida, fica-se com essa certeza. Quando se vive nos dois países, tornamo-nos centauros ou sereias peninsulares, com duas vivências”, disse.

Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Espanhóis, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e doutorado pela Universidade da Salamanca, em Espanha, com uma tese intitulada sobre Garrett e Rivas, Magalhães foi responsável pelo Projecto de Investigação Relações Linguísticas e Literárias entre Portugal e Espanha desde o início do séc. XIX até à actualidade.

Conhecedor da realidades dos dois países, dá como exemplo o contraste entre o espaço global da obra épica portuguesa, Os Lusíadas, e o mais localizado de D. Quixote, que se fica por Castela e pouco mais.

“Como português, vive-se com as distâncias, a todos os níveis. Somos socialmente mais distantes, as famílias estão mais reunidas em casa e isso reflecte-se nas formas de tratamento,

“A sociedade espanhola é mais de proximidades, de maior convívio no social”, afirmou.

Rejeitando a ideia de que Portugal e Espanha tenham estado alguma vez de costas voltadas, o especialista ibérico refere que “sempre houve relações'.

“Houve a tendência dos dois países, pontualmente, de se ignorarem mas sempre com contactos ou acordos a decorrerem. Infelizmente, algumas coisas vão-se apagando na memória”, refere.

Uma das mais recentes aproximações é o ensino do espanhol em Portugal e o, ainda débil, ensino do português em Espanha.

“No âmbito do ensino do espanhol em Portugal, já se fez muita coisa e o crescimento é muito grande. Agora, deve procurar-se que aconteça algo proporcional com o português em Espanha”, disse.

“A desproporção é enorme. Em Portugal, o espanhol é segunda língua estrangeira e isso não ocorre em Espanha com o português. E Espanha, sendo um país multilinguístico, não teria dificuldade em acolher o português”, relembra

Para Gabriel Magalhães, Espanha parece viver um momento em que “está um pouco perdida nos seus combates linguísticos internos”.

“Tenta dinamizar os seus idiomas, num momento em que se diz que o espanhol está a crescer em todo o mundo menos em Espanha. Este contexto leva a que o português seja menos importante”, considerou.

Temas sobre os quais, Gabriel Magalhães antecipa debates “interessantes” no colóquio da próxima semana.

O colóquio conta ainda com a participação de João Marcelino, director do Diário de Notícias, Miguel Gil, administrador da Media Capital, Enrique Pinto Coelho (ex-correspondente da SIC em Espanha), Belém Rodrigo, correspondente em Lisboa do diário ABC, António Sampaio, delegado da Lusa em Madrid e Enric Juliana, do diário La Vanguardia.

Será moderado por Maria de Lurdes Vale, conselheira de Imprensa na Embaixada de Portugal em Madrid, antecipando-se uma larga participação de portugueses e espanhóis.

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